revista fevereiro - "política, teoria, cultura"

   POLÍTICATEORIACULTURA                                                                                                     ISSN 2236-2037

Marcela VIEIRA

Louis Aragon – “les lilás et les roses”

 

Apresentação

Louis Aragon (1897 – 1982), poeta, jornalista e ensaísta francês, foi, ao lado de André Breton, Paul Éluard, Phippe Soupault, entre outros, um dos precursores do surrealismo, movimento artístico que vai romper com as convenções intelectuais, ideológicas e políticas a partir da primeira metade do século XX. Dando vazão a uma escrita automática, aleatória, e a uma simbologia de desejo e inconsciente, os surrealistas propunham um campo de significação revolucionário – muito além de uma expressão “livre” das formas de linguagem –  por reverem experiências ordinárias (no sentido de “comum”, “normativo”) de modos de vida.

Louis Aragon também atuou ativamente no cenário politico dessa geração como membro do Partido Comunista Francês. Foi jornalista de influentes revistas e jornais franceses (Commune, L’Humanité, Ce soir), e, como, diretor geral da revista Les Lettres françaises, fez chegar ao leitor francês escritores estrangeiros engajados na causa social e política. Les Lettres françaises, aliás, ficou internacionalmente conhecida pela acusação a Kravchenko, ex-integrante do movimento comunista da URSS e asilado político nos Estados Unidos a partir de 1944. Em seu livro I choose freedon, o escritor russo contribuiu com a primeira denúncia pública e oficial feita por um cidadão russo, ao testemunhar contra o sistema de horrores do stalinismo com os gulags. Segundo Les Lettres françaises, Kravchenko estaria se rendendo às intenções políticas norte-americanas, denúncia que é interpretada, simbolicamente, como uma arma ofensiva e psicológica própria da Guerra Fria.

Ao se falar em Louis Aragon, não de deve esquecer, portanto, de sua imagem de burocrata e grande defensor do stalinismo. A propósito da morte ditador russo, num pronunciamento de teor essencialmente nacionalista, Aragon escreve, em Les Lettres françaises:

“A França deve a Stalin sua existência de nação por todas as razões que Stalin ensinou aos homens soviéticos em amar a paz, odiar o facismo, e, principalmente, pela constituição staliniana, que é uma das razões pelas quais um grande povo pode viver e morrer nas mesmas condições. “

“Les lilás et les roses”

“Les lilas et les roses” é publicado em Crève-Coeur, de 1941, em plena Segunda Guerra Mundial, ou seja, um ano após a invasão alemã aos Países Baixos, dando início à ofensiva no território francês.

Neste poema, Aragon narra a derrota da armada francesa, evocando, através de frases sem pontuação, elementos bucólicos, e uma mistura de espaços e tempos verbais, a eternização de sua pátria. Ao contrário da fase surrealista do entre-guerras, “Les lilás et les roses” obedece a uma estrutura de métrica e rima (o que não se mantém em sua tradução), indicando a busca de Aragon pelos moldes tradicionais não apenas da poesia, mas de sua própria nacionalidade. Esse “regresso” ao clássico francês, ao contrário do que se pode pensar, fez com que o poema se popularizasse, ganhando uma audiência de grande público, e convocando, assim, a uma atitude de resistência.

As imagens de “Les lilás et les roses” nos dão prova da fundamental relação entre poesia e memória, o poeta retirando de uma experiência de desespero e de morte elementos que irão conviver numa mesma atmosfera. Verdades obscuras, essas imagens premeditam, com uma vontade de não esquecimento, o retorno a uma realidade cruel, à exaltação daqueles que resistiram em nome da nação. Postura poética e política que reflete a relação que a França tem com a sua própria história.































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