revista fevereiro - "política, teoria, cultura"

   POLÍTICATEORIACULTURA                                                                                                    ISSN 2236-2037



Érica ZÍNGANO & Marcela VIEIRA

conselhos, advertências, atenção em minúcias

 


j'écris pour me parcourir. peindre, composer, écrire: me parcourir. Là est l'aventure d'être en vie.

Henri Michaux

 

Henri Michaux, nascido em 1899, na Bélgica, naturalizou-se francês após longa permanência em Paris, entre idas e vindas pelo mundo. A partir de 1925, o já então escritor lança-se em experimentações plásticas como desenho, aquarela, gravura e pintura, técnicas que se irão conjugar à sua escrita, sobretudo durante o período de suas descobertas alucinógenas da mescalina e outras drogas. Essas "viagens", tanto psíquicas quanto de deslocamento geográfico, serão temas de inúmeros de seus livros, como Ecuador (1929), Voyage en Grande Garabagne (1936), Misérable Miracle (1956), e L'Infini Turbulent (1957).

Sua extensa obra, porém, habita o campo do inclassificável (o que não deixa de ser uma classificação possível, ainda que erguida pela base do impossível): ao experimentar - por meio da escrita (do poema que movimenta a prosa que movimenta a narrativa de viagem que movimenta a página que movimenta simplesmente), por meio do gesto (do desenho que aponta a pintura que aponta a mão que aponta) - as variadas manifestações artísticas, distintas entre si a priori, apesar de se tratar de uma só mão-cabeça-tronco-pernas-e-lugares, todo seu trabalho vem afirmar o fazer (em um permanente desfazer de fronteiras), em quaisquer das formas que esse fazer (desfazendo e sendo desfeito, pois) tenha ganhado corpo no mundo como experiência.

Com esse ímpeto de fazer, e articulando nessas tantas temporalidades e direções um corpo que escreve enquanto vive escreve vive, Michaux expressa sem dúvida uma inscrição e uma afirmação da vida... Falar em corpo (e não nas mumunhas pegajosas do eu, como subjetividade, identidade, sujeito etc., ainda que saibamos que o eu - seu dentro e seu fora - esteja, sim, participando no meio desse fogo cruzado) traz para o eixo desse fazer o foco de uma massa que se desloca no espaço, dando-nos a ver as marcas, impressões que restam (e surgem) desses deslocamentos (interior/exterior e vice-versa), abrindo espaço para a inscrição do imaginário.

Tais são os casos desses dois "Conselhos" publicados em La nuit remue (1935) e traduzidos, de forma inédita, para a quinta edição de Fevereiro.

































fevereiro #

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