revista fevereiro - "política, teoria, cultura"

   POLÍTICATEORIACULTURA                                                                                                    ISSN 2236-2037



Henri MICHAUX

conselho a respeito dos pinhos / conselho a respeito do mar

 

tradução: Érica Zíngano & Marcela Vieira

 


conselho a respeito dos pinhos

Um barulho monótono não acalma necessariamente. Uma furadeira não acalma ninguém, salvo, talvez, o mestre de obras. É nos barulhos monótonos, contudo, que mais se tem chance de encontrar a calma.

O que há de reconfortante no barulho do vento soprando em uma floresta de pinhos é que ele não tem aresta alguma, é redondo. Mas esse barulho nada tem de glauco. (Ou será que ele acalma por nos induzir a imaginar um ser poderoso e benevolente, incapaz de perder a razão por completo?)

Porém, não se deve olhar muito o cimo dos pinhos chacoalhados pelo vento forte. Pois, um sujeito, imaginando-se sentado em suas copas em uma tal oscilação, e percebendo-se ali muito mais natural do que em um balanço ou em um elevador, devido ao insólito e suntuoso movimento lá do alto, pode sentir-se conduzido, e, ainda que ele se esforce em não pensar sobre isso, tentando concentrar-se nesse balanço, ele estará, por fim, o tempo todo ocupado, sentindo-se permanentemente no ápice vacilante de um pinho, e torna-se impossível voltar ao chão.

 

conseil au sujet des pins

Un bruit monotone ne calme pas nécessairement. Une foreuse ne calme personne, sauf peut-être le contremaître. Néanmoins, c’est dans les bruits monotones que vous avez le plus de chance de trouver le calme.

Ce qu’il y a de d’agréable dans le bruit du vent soufflant sur une forêt de pins, c’est que ce bruit n’a aucune arête, il est rond.Mais il n’a rien de glauque. (Ou bien calme-t-il parce qu‘il nous induit à imaginer un être considérable et débonnaire, incapable de sortir absolument de ses gonds ?)

Cependant, il ne faut pas trop regarder la cime des pins secoués par grand vent.Car si l’on venait à s’imaginer assis sur leur faîte, dans un tel balancement, l’on pourrait et bien plus naturellement que se trouvant sur une balançoire ou dans un ascenseur, à cause de ce bizarre et superbe mouvement là-haut, se sentir emporté, et, quoique s’efforçant de ne pas y songer, bien éloigné pour sûr de vouloir méditer ce balancement, on en est sans cesse occupé, on se sent toujours au sommet vacillant d’un pin, on ne peut plus redescendre à terre.

 



 


Daniel NASSER


 

 

 

conselho a respeito do mar

Deve-se também prestar muita atenção ao mar. Nos dias de tempestade, tem-se o costume de se caminhar pelas falésias. E mesmo que o mar seja cheio de ameaças, apesar do vai-e-vem de suas forças que parecem crescer a cada instante, o espetáculo é bonito e por fim reconfortante, já que essa grande excitação e essa enorme quantidade de água, quantidade capaz de revirar um trem, tudo isso vai apenas fazer com que se molhe um pouco.

No entanto, se há uma angra, onde as violências do mar são talvez mais brandas, mas vindas de milhares de direções, conjugando-se em uma agitação confusa, pode ser que não seja bom de se olhar; pois se a mais agressiva das rebentações não conseguiu te alterar, muito pelo contrário, essa superfície sem horizontalidade, sem fundo, reservatório de água ascendente, descendente, hesitante, como se ela própria sofresse, penasse humanamente (seus movimentos se tornaram lentos e embaraçados e como calculados), essa água faz com que sintas em ti mesmo a ausência de um verdadeiro apoio, que possa servir em qualquer situação; e até mesmo o solo, seguindo o passo do teu espírito, parece oscilar sob seus pés.

 

conseil au sujet de la mer

Il faut faire grande attention aussi à la mer. Les jours de tempête. On a coutume de faire la promenade des falaises. Et quoique la mer soit pleine de menaces. Malgré le va-et-vient de ses forces qui semblent grandir à chaque instant, le spectacle est beau et somme toute réconfortant, puisque cette grande excitation et ces énormes paquets d'eau, des paquets à renverser un train, tout ça ne va qu'à vous mouiller un peu.

Cependant, s'il y a une anse, où les violences de la mer sont peut-être moins fortes, mais venant de plusieurs directions se conjuguent en une trouble mêlée, il peut n'être pas bon de regarder, car tandis que la plus grande violence n'avait pas réussi à vous démoraliser, tout au contraire, cette surface sans horizontalité, sans fond, cuve d'eau montante, descendante, hésitante, comme si elle-même souffrait, peinait humainement (ses mouvements sont devenus lents et embarrassés et comme calculés), cette eau vous fait sentir en vous-même l'absence d'une vraie base, qui puisse servir en tout cas, et le sol même, suivant la démarche de votre esprit, semble se dérober sous vos pieds.

 



 



 


Daniel NASSER


 

































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