revista fevereiro - "política, teoria, cultura"

   POLÍTICATEORIACULTURA                                                                                                    ISSN 2236-2037



Tradução de Pedro F. HEISE

Corria no crepúsculo lamacento

 

 

 

Eu corria no crepúsculo lamacento  
atrás de estaleiros retorcidos, de mudos
andaimes, por bairros molhados
no cheiro do ferro, dos farrapos
aquecidos, que dentro de uma crosta
de poeira, entre casebres de lata
e canos, erguiam paredes
recentes e já escurecidas, contra um fundo
de metrópole desbotada.
No asfalto
esburacado, entre os pelos de uma grama acre
pelos excrementos e planícies
negras de lama - que a chuva escavava
em infectos tepores - as longas
filas dos ciclistas, dos agonizantes
caminhões de madeira, se dispersavam
de tanto em tanto, em centros de subúrbios
onde já algum bar tinha cercas
de luzes brancas, e sob a lisa
parede de uma igreja se estiravam,
viciosos, os jovens.
Ao redor dos arranha-céus                      
populares, já velhos, as hortas podres
e as fábricas hirtas com suas gruas paradas
estagnavam em um silêncio febril;
mas um pouco fora do centro iluminado,
ao lado daquele silêncio, uma rua
azul pelo asfalto, parecia toda imersa
em uma vida imemorável e intensa
quanto antiga. Embora raros, brilhavam
os faróis de uma luz cadente,
e as janelas ainda abertas estavam
brancas pelos panos estendidos, palpitantes
de vozes internas. Sentadas às soleiras
estavam as mulheres velhas, e límpidos
nos macacões ou nas bermudas quase
de festa, brincavam os meninos,
mas abraçados entre eles, com companheiras
mais precoces que eles.
Tudo era humano,
naquela rua, e os homens estavam
agarrados a ela, dos vãos à calçada,
com seus trapos, suas luzes...

Parecia que até dentro da sua íntima
e miserável morada, o homem estivesse
apenas acampado, como uma outra raça,
e apegado a este seu bairro
dentro da tarde viscosa e empoeirada,
não fosse Estado o seu, mas confusa
pausa.
Todavia, quem passava e olhava
privado da inocente necessidade,
buscava, estranho, algo em comum,
pelo menos na festa por passar e por olhar.
Nada havia ao redor senão a vida: mas naquele mundo
morto, para ele, recomeçava a Realidade.

Poema de Poesia com Literatura, in Diários (1943-1953)
Tradução de Pedro F. Heise

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

   
 

Comizi d’Amore, 1963

 

 
 

 

Correvo nel crepuscolo fangoso
dietro a scali sconvolti, a mute
impalcature, tra rioni bagnati
nell'odore del ferro, degli stracci
riscaldati, che dentro una crosta
di polvere, tra casupole di latta
e scoli, inalzavano pareti
recenti e già annerite, contro un fondo
di stinta metropoli.
Sull'asfalto
scalzato, tra i peli di un'erba acre
di escrementi e spianate
nere di fango - che la pioggia scavava
in infetti tepori - le dirotte
file di ciclisti, dei rantolanti
camion di legname, si sperdevano
di tanto in tanto, in centri di sobborghi
dove già qualche bar aveva cerchi
di bianchi lumi, e sotto la liscia
parete di una chiesa si stendevano
viziosi, i giovani.
Intorno ai grattacieli
popolari, già vecchi, i marci orti
e le fabbriche irte di gru ferme
stagnavano in un febbrile silenzio;
ma un po' fuori dal centro rischiarato,
al fianco di quel silenzio, una strada
blu d'asfalto, pareva tutta immersa
in una vita immemore ed intensa
quanto antica. Benché radi, brillavano
i fanali d'una cadente luce,
e le finestre ancora aperte erano
bianche di panni stesi, palpitanti
di voci interne. Alle soglie sedute
stavano le vecchie donne, e limpidi
nelle tute o nei calzoncini quasi
di festa, scherzavano i ragazzi,
ma abbracciati fra loro, con compagne
di loro più precoci.
Tutto era umano,
in quella strada, e gli uomini vi stavano
aggrappati, dai vani al marciapiede,
coi loro stracci, le loro luci...

Sembrava che fino dentro l'intima
e miserabile sua abitazione, l'uomo fosse
solo accampato, come un'altra razza,
e attaccato a questo suo rione
dentro il vespro unto e polveroso,
non fosse Stato il suo, ma confusa
sosta.
Tuttavia chi passava e guardava
privo dell'innocente necessità,
cercava, estraneo, una comunione,
almeno nella festa del passare e del guardare.
Non c’era intorno che la vita: ma in quel morto
mondo, per lui, ricominciava la Realtà.

   









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